quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A regência de «preferir»

Desprestigiante

«Hesitante, prefere antes falar em romeno do que em francês» («Ciganos repatriados mantêm sonhos francês», Isabelle Wesselingh, Diário de Notícias, 20.08.2010, p. 25).

Que trapalhada, na verdade! O verbo preferir, e já aqui abordei diversas vezes a questão, rege a preposição a e não a construção do que, e o advérbio antes é pedido por outra construção. Este é, contudo, um erro já com fortes raízes. Outro exemplo da mesma edição deste jornal: «Legítima pretensão, mas Franco não tinha grande apreço pelo ramo da família de Carlos Hugo, preferindo antes a linhagem de D. Juan de Borbón» («Espanha perde o príncipe que disputou o trono com o Rei», Diário de Notícias, 20.08.2010, p. 49). Em relação ao primeiro excerto, porém, a questão é ainda outra. Isabelle Wesselingh é uma jornalista francesa, da agência France-Presse (AFP), e não escreveu o artigo em português. Alguém o traduziu, e traduziu com erros daquele jaez. A acompanhar a autoria, devia aparecer sempre o nome de quem fez a tradução.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Prémio Camões 2010: «O acordo ortográfico é uma perda de tempo»

Ferreira Gullar foi prémio Camões 2010. É um autor brasileiro, que o diário i entrevistou na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Atente-se no que afirma sobre o Acordo Ortográfico.

“Eu acho que o Brasil e Portugal, com os outros países de língua portuguesa, têm de parar com essa coisa de ficar mudando as regras ortográficas. Eu acho que é uma coisa que não ajuda em nada. É uma perda de tempo. Cria confusão, inclusive dá prejuízos. Já imaginou o que vai acontecer? Colecções de livros vão ter que ser jogadas fora e reimpressas, para obedecer a uma nova ortografia porque uma ou duas pessoas resolveram mudar a maneira de escrever a língua. Isso é uma arbitrariedade. Quem é que outorgou a essas pessoas o direito de fazer isso? A língua é património do país, da população, não é propriedade de ninguém. Não pode haver uma entidade que decide mudar a língua de todo o mundo. Isso é um absurdo. É uma coisa precária, que cria confusões, porque é impossível você encontrar uma forma de colocar todos os países de língua portuguesa em que não se crie ambiguidade nenhuma. É um sonho vão. A ortografia tem de ser uma representação da linguagem falada. Então é uma bobagem. Uma perda de tempo.

A entrevista integral pode ser lida aqui.

sábado, 5 de junho de 2010

Primeiro-Ministro não é um exemplo de bem falar

À saída do debate quinzenal no Parlamento, o primeiro-ministro, José Sócrates, disse aos jornalistas: «Não, as únicas medidas que podem haver são aquelas medidas que são previstas no Plano de Estabilidade e Crescimento.»

Fonte: Assim Mesmo

sábado, 8 de maio de 2010

Novo dicionário esclarece dúvidas de quem fala e escreve português

Um dicionário com 1400 entradas que se propõe esclarecer “dúvidas, dificuldades e subtilezas” a quem fala e escreve em português chegou recentemente ao mercado. A obra é da autoria de Edite Estrela, Maria Almira Soares e Maria José Leitão.

"Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Subtilezas da Língua Portuguesa" pretende proporcionar "maior clareza na distinção da fronteira entre o erro e as formas legítimas e admissíveis" da expressão oral e verbal, de acordo com a introdução assinada pelas três especialistas.

As 1400 entradas do livro estão organizadas por ordem alfabética e respeitam a expressões, substantivos e verbos, entre outros.

A obra, com cerca de 360 páginas, tem como referência o Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa (VOLP) de Malaca Casteleiro, da Porto Editora e publica, como elemento complementar, em apêndice, o Anexo II do Acordo Ortográfico.

Esta é a segunda obra do género publicada desde março último, depois de a Planeta Editora ter dado à estampa "Assim é que é falar".

Lusa/ SIC
(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)


domingo, 18 de abril de 2010

Baptista-Bastos: «A viagem sem epílogo»

A viagem sem epílogo *

Baptista-Bastos

À memória de Dona Odete, minha inesquecível professora da Primária; do prof. Emílio Meneses, gramático, que fizera do ensino do Português um acto poético; e do Padre Mateus Rosa, que me ensinou latim com a sorridente paciência de um beneditino.

E em louvor dos professores portugueses.

Os infortúnios da desordem política conduziram o sistema educativo [português] à corda bamba do funâmbulo. Ninguém sabe o que vai acontecer em cada ano lectivo. E as deficiências do poder executivo, seja ele do PSD ou do PS, são dissimuladas através de monstruosas campanhas contra os professores. Segundo o poder político, os professores são os causadores de todos os males, e os Governos constituídos por pessoas imaculadas, que nunca se enganam, jamais se equivocam e em tempo algum têm dúvidas. No entanto, os problemas vêm de muito atrás. Veiga Simão revelou-os há mais de trinta e cinco anos, e chegou a indicar soluções. Nada foi feito, a fim de se obstar ao desastre anunciado. Muitos alunos trepam à universidade sabe-se lá com que manigâncias, ignorando praticamente tudo acerca do mais rasteiro conhecimento humano.

No caso do Português, o desastre não é só catastrófico: chega a ser afrontoso. Sendo aquela a disciplina fundamental para todas as outras, a conclusão é perturbadora: a esmagadora maioria dos alunos não está preparada para ler, entender, compreender e interpretar o mais ameno formulário. Acontece um porém: os jornais que verberaram o facto de as notas negativas a Português terem duplicado no 9.º ano não estão isentos de praticar a recta pronúncia e o idioma acertado. O incidente perturbador é que esses jornais tomam-se muito a sério, fazendo o papel de equilibradores quando, na realidade, desequilibram o mais elementar bom senso.

Os leitores de jornais confrontam a sua ingénita preguiça mental com a preguiça profissional de quem não possui a precaução liminar de conhecer, estudar e amar o idioma. Os leitores adoptam os tiques daqueles para os quais a facilidade e o simplismo constituem as formas mais altas de referência. Garrett, nosso maior, ensinou, em Da Educação, o seguinte: «Jamais conhecerá bem as cousas o que não conhece bem as palavras». No gabinete de Acúrsio Pereira, chefe da Redacção de “O Século”, matutino onde aprendi o ofício de noticiarista, havia esta inscrição, também de Garrett: «Fugi de palavras antiquadas, mas não desprezei as antigas».

A linguagem usada na Imprensa, na Rádio e na Televisão é deplorável, chã, simplória, e assustadoramente pobre. E, Dilecto, adicione à lista um numeroso grupo de escritores, alguns muito premiados, muito traduzidos, muito louvados e muito, muito tudo mas com consideráveis e insanáveis conflitos com a ortografia, a morfologia e a sintaxe. Perante tal panorama pode-se exigir aos alunos a exemplaridade de uma “ordem” que em si mesma se não respeita?

Os moços saem do Básico sem perceber nada dos rudimentos da aprendizagem. As sucessivas alterações ao sistema de ensino foram não apenas redutoras mas, sobretudo, criaram a maior das confusões em professores, alunos e pais. Os políticos portugueses, responsáveis pelo Ensino, nos últimos trinta anos, deveriam estar no banco dos réus, culpados de indignidade nacional. Nada me prende ao passado, mas a verdade é que, outrora, saíamos da Primária muito mais bem apetrechados do que a maioria dos alunos, actualmente em passagem para a o «ensino superior» o que quer que a expressão queira significar.

Lembro-me de a Dona Odete exigir que memorizássemos o abecedário ao contrário: começando do Z e terminando na letra A. A imposição pareceu-nos um capricho da prepotência. Muitos anos depois, conversando, no Rio de Janeiro com o sábio professor Celso Cunha (autor, com Lindley Cintra de um magno tratado gramatical), que me convidara a jantar em sua casa, e contando-lhe a bizarria, ele explicou-me que o exercício determinado pela Dona Odete era óptimo para a fixação memorial. Aliás, era uma espécie de mnemónica, usada na Antiguidade Clássica como componente fundamental da Retórica. Com um sorriso extremamente bondoso, mas a que não faltava a força inabalável da vontade, o professor Celso Cunha concluiu: «Não se esqueça, meu caro amigo, de que a memória é perigosa».

Eu próprio dei aulas de Língua e Cultura Portuguesas numa universidade privada. E tomei consciência das dificuldades dos estudantes, cotejados com as questões mais elementares. Que fiz? Ignorei a normativa, dei as aulas à minha maneira, levei livros de Carlos de Oliveira, Jorge de Sena, Sophia, Natália Correia, Nemésio; falei do conto português, de Fernão Mendes Pinto e da primeira reportagem escrita na nossa belíssima língua: a Carta a Dom Manuel Primeiro, ou Novas do Achamento, de Pêro Vaz de Caminha, nosso par, nosso Mestre; introduzi Aquilino e Tomaz de Figueiredo, e só a seguir li-lhes, e convidei-os a ler, Ramalho, Fialho e Eça, o jornalista de génio.

Peço licença para ser imodesto: as aulas foram um êxito, muitos dos meus alunos trabalham nas televisões e nos jornais, dois deles nas rádios. Ainda hoje me escrevem, me telefonam, me pedem ajuda. E estarei sempre à disposição deles, na medida das minhas reduzidas possibilidades. Para aprender (o ensino é, também, talvez sobretudo, uma aprendizagem), o importante será: conhecimento, paixão e vontade. A teimosia do conhecimento conduzir-nos-á aos outros patamares. Sei do que falo. E se falo destas questões com ardor, não apresento desculpas. O Português é a minha razão de ser, e conservo de todos aqueles autores que citei, e de muitos mais, uma lembrança enternecida.

Amiúde, renovo essas antigas experiências de leitura, e nunca me arrependi: nelas encontro respostas para interrogações que faço ao meu tempo, e lenitivo para as angústias que a vida portuguesa, no todo, me provoca e a milhões de outros como eu. Há dias, a um jovem repórter que me procurou em minha casa, disse-lhe: «Ser jornalista não é, somente, um ofício: é uma condição». Uma condição que se qualifica a si mesma no desenvolvimento das suas capacidades intelectivas. Um jornalista culto e com memória é um homem perigoso. Não se traveste em grande alma ou em espírito superior, mas não abdica jamais da conivência com o protesto, da cumplicidade com os mais desprotegidos, e da procura dos meandros nos quais a realidade se oculta.

Adianto, meus Dilectos, que devo essa consciência das coisas e das pessoas àquelas e àqueles que, em distintas ocasiões da minha vida, e em diferentes instituições de ensino, enfrentando todos os riscos, desafiando todas as vicissitudes, me legaram a noção de que o saber é uma viagem sem epílogo.

* Artigo de opinião publicado no "Jornal de Negócios" do dia 21 de Julho de 2006 :: 26/07/2006

Sobre o Autor

Jornalista e escritor português. Considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Além dos vários jornais em que trabalhou, em Portugal (em "O Século", onde começou o seu percurso profissional, "O Século Ilustrado", "República", "Europeu", "O Diário", etc.) foi no vespertino "Diário Popular" que, durante vinte e três anos (1965-1988), marcou, «com um estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Com paticipações ainda na televisão [na RTP, antes do 25 de Abril, onde assinou textos de documentários para Fernando Lopes ("Cidade das Sete Colinas", "Os Namorados de Lisboa", "Este Século em que Vivemos»], por exemplo, e depois na SIC, com o programa "Conversas Secretas"] e na rádio (com crónicas na TSF, Antena Um e Rádio Comercial), foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas. Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês, de cuja obra sobressaem os seguintes livros: O Cinema na Polémica do Tempo (1959, O Filme e o Realismo (1962), no ensaio; e, na ficção, O Secreto Adeus (1963), O Passo da Serpente (1965), Cão Velho entre Flores (1974), Viagem de um pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura (1981), Elegia para um Caixão Vazio (1984), A Colina de Cristal (1987)[Prémio Pen Clube e Prémio Cidade de Lisboa], Um Homem Parado no Inverno (1991), O Cavalo a Tinta-da-China, (1995), No Interior da Tua Ausência (2002), etc.

Vencedor do Prémio de Crónica João Carreira Bom, relativo ao ano de 2005

quarta-feira, 7 de abril de 2010

CUIDADO COM A LÍNGUA! [29.03.2010]

Neste programa da RTP dedicado à língua portuguesa são feitas referências às palavras churrasco e vacina e é explicada a origem das expressões «custar os olhos da cara», «comer com os olhos» e «fazer das tripas coração».

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa 'online'

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), elaborado sob a orientação científica do linguista João Malaca Casteleiro e publicado há três meses pela Porto Editora, está disponível gratuitamente na Internet a partir daqui.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Conhece o significado destas expressões?

Sabe qual é o significado das expressões “O da Joana”, “Ter para os alfinetes”, “Tomar a nuvem por Juno”, “Erro crasso” e Onde Judas perdeu as botas”?

Se desconhece o significado das expressões acima indicadas, ouça a explicação de Mafalda Lopes da Costa na Antena 1, em “Lugares Comuns”. Se já as conhece, aproveite para as recordar.

Antena 1

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010